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Misticismo sem fim

janeiro 10, 2011

Sempre dissemos aqui que queríamos falar da moda como fenômeno e esperamos ter conseguido. Agora, a dinâmica que sempre nos fascinou tem um novo reflexo: o fim. Não pretendemos mais publicar nada aqui. Não é exatamente que a gente não tenha mais o que dizer, mas isso será feito em outros lugares. Nosso desejo é seguir contando com quem acompanhou o duodeluxo até hoje.

Essa dupla só aconteceu por causa da amizade, e – como sempre – ela vai ser maior que esta parceria. Mas se o blog acaba, a Edição de Luxo segue firme, forte e fina – editada apenas por Aline, virginiana em carreira solo. Aquariano, Thiago Felix segue em uma jornada espiritual de autodescoberta, ameaçando reaparecer em números futuros do fanzine e oferecendo entretenimento místico no tumblr tropicolor.

Não estranhem se reaparecermos por aí (estamos em dúvida entre culinária, terapias alternativas e taxidermia).

A todos que leram, linkaram, comentaram, gostaram e inspiraram a trajetória deste blog, o nosso profundo e sincero agradecimento. Tivemos muitas alegrias e muita diversão graças a esse pedacinho aconchegante da rede mundial de computadores.

Abraços,

Aline e Thiago

 

PS: Kate, mesmo separados, esperamos que você escute eternamente de nossas vozes uníssonas um brado retumbante: “te amamos”.

Dark Power

dezembro 10, 2010

Um dos ensaios mais lindos que vi nos últimos meses. Kate morena com ares de pin-up para a Vogue Itália de dezembro de 2010. Os cliques são do super Nick Knight.

Star Signs

dezembro 6, 2010

A Vogue UK desse mês de dezembro fez um editorial bem legal com imagens que representam cada signo do zodíaco. As fotos são de Tim Gutt e a modelo é a norueguesa Siri Tollerod.

Seguindo a onda astrológica, a Vogue Alemanha também traz sua versão do horóscopo em um editorial da Swarovski.

Mas esses não são os primeiros editoriais de moda inspirados nos signos do zodíaco. A Harper’s Bazaar de setembro de 2005 publicou um ensaio com os estilistas de cada signo. O meu é o Karl, amei!

Aliás, o ensaio foi fotografado pelo próprio. Meio (meio?) kitsch, mas não tem como não amar. Veja os outros signos aqui.

E os signos da Vogue Uk e da Vogue Alemanha estão no site da Lilian Pacce.

Balanço 28ª Casa de Criadores – inverno 2011

dezembro 5, 2010

Jadson Ranieri / Gabriela Sakate / Rober Dognani

Existem pelo menos três motivos básicos que me fazem amar a Casa Criadores. O primeiro, é a expectativa do Novo, de ser surpreendido por jovens talentos, loucos para mostrar o seu trabalho; segundo, o clima despretensioso do evento, meio reunião de amigos (tem também o lado negativo dos atrasos absurdos); e a terceira é que lá os estilistas estão muito mais preocupados em criar um estilo próprio do que mostrar o que será tendência na próxima estação. Virar tendência é mais uma consequencia do que uma meta.

No entanto, essa edição foi bastante morna, sem muitas surpresas em termos de  criação e novidade. Walério Araújo, que por tradição sempre fechava o evento, dessa vez foi o primeiro a desfilar. E parece que a sua temática luto deu o tom dessa edição da Casa, já que o clima dark foi recorrente em muitas coleções.

Soube do tema da coleção de Walério quando fui entrevistá-lo para a Edição de Luxo 5. Ele me disse que escolheu esse tema porque perdeu muitas coisas nos últimos anos – amigos que morreram,  amores que se acabaram, além de ter passado por problemas financeiros. Desde já fiquei super curiosa pra ver uma coleção dele sem aquele clima de festa característico.

Mesmo de luto, Walério consegue nos divertir e guardar um pouco de seu deboche. Sua viúva é puro drama, ousadia & sensualidade. Seu trabalho com a renda gerou looks riquíssimos com transparências e diferentes texturas.

 

Walério Araújo inverno 2011

Ainda no primeiro dia de evento, teve o desfile de R. Rosner, que vem acertando em cheio no styling, feito por Flavia Pommianosky e Davi Ramos. Na coleção passada, teve aqueles capacetes brancos no maior estilo futurismo anos 60, e dessa vez o destaque ficou por conta das luvas e acessórios fluorescentes para a cabeça. Incrível como esses detalhes tornam a coleção bem mais moderna e interessante.

R. Rosner inverno 2011

No segundo dia, o Projeto Lab deu o start. Nada que saltasse aos olhos. Luiz Leite foi super aplaudido com sua coleção inspirada nos trabalhadores rurais, mas acredito que os destaques foram Jacinto, que mostrou um trabalho de desconstrução de alfaiataria bastante preciso, e a Juss, que veio com uma coleção masculina folk-grunge. Adorei a combinação de cores e as estampas das camisas e do blazer do último look (esse verde da foto). Tipo fiquei com vontade de usar.

Juss inverno 2011

Nesse dia teve ainda a esperada estreia de Ale Brito, já conhecido da noite paulistana e da própria Casa de Criadores. Ale trabalhou um tempo com as Gêmeas (como elas fazem falta no line up, não?) e com Rober Dognani. Eu acompanhei bastante a criação de sua coleção e estava super ansiosa pra ver como tudo aquilo ia aparecer na passarela. Sua inspiração foi Siouxsie Sioux e sua banda Siouxsie and the Banshees, referência inclusive para o seu próprio jeito de se vestir. Daí a atitude punk, o make pesado e os looks de calça e jaqueta de couro perfecto. Os vestidos com listras me lembraram  ainda o futurismo dos anos 60, com suas construções geométricas.

Ale Brito inverno 2011

O desfile do Arnaldo Ventura está entre os melhores dessa edição da Casa de Criadores. As referências foram complicadas (mochileiros – mineiros – aventureiros – mountain – guerra), mas o resultado foi uma coleção bastante coesa, consistente e com ótimos looks.

 

Arnaldo Ventura inverno 2011

O terceiro dia foi o mais fraco de todos, apesar das boas coleções da Onono e da Der Metropol. A Onono acertou muito no tropicalismo pop, mas pecou um pouco no styling (assim como o Gustavo Silvestre), o que deixou o desfile meio desconjuntado. Acho a marca muito uma versão brasileira da Cassette Playa, e isso é ótimo.

Sobre o desfile da Karin Feller, o Luigi Torre, no FFW, disse uma coisa bastante pertinente: lembra muito a Juliana Jabour, com quem Karin trabalhou durante algum tempo, tornando-se um pouco difícil distinguir uma da outra. Mas uma coisa é certa, assim como Jabour, ela sabe muito bem criar peças de desejo. Eu quero aqueles tricôs com estampa de coruja agora!

Karin Feller inverno 2011

Por fim, queria saber o que aconteceu com a Yoo Hee Lee, grande revelação do Lab da edição passada e que deixou todo mundo estupefato. Espero poder ver a continuidade do trabalho dela no ano que vem.

 

*As fotos são do FFW.

Dancing in the dark

dezembro 4, 2010

Quando eu penso que não tem mais nada pra ser dito nesse blog…

Just Kate

novembro 19, 2010

Kate Moss por Juergen Teller tipo natural para a Selfservice Magazine de dezembro de 2010. Essa é só a metade do ensaio, mas você pode ver ele inteirinho aqui. Lindo!

Em clima de Planeta Terra

novembro 16, 2010

O Festival Planeta Terra acontece nesse sábado (20/11) e, pra não perder o costume, vamos falar um pouco da relação de algumas das bandas que se apresentarão nessa edição com a moda.

Começando pelo of Montreal, reis do delírio fashion, com seus figurinos que beiram o absurdo. Em 2009, a faixa “Suffer For Fashion”, do álbum “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?”, virou trilha do documentário The September Issue, sobre a Vogue América.

Já o Hot Chip foi trilha de uma campanha bem legal da Urban Outfitters em 2008, com a música “Shake a Fist”.

O Phoenix, além de ser trilha do novo filme da Sofia Coppola, Somewhere, fez parte da trilha do desfile da Dior Homme  Winter 2005 com um mix da faixa “Victim of the Crime”. Daí o Hedi Slimane virou fã e fez esse ensaio lindo com a banda.

E depois disso a gente até aguenta ouvir Lisztomania pela milésima vez, né?

Flávio de Carvalho desveste a moda

novembro 15, 2010

Foi até ontem no MuBe, em São Paulo, a exposição “Fávio de Carvalho Desveste a Moda Brasileira da Cabeça aos Pés” e, olha, quem não foi perdeu. Partindo de 39 artigos escritos pelo artista modernista e publicados no Diário de São Paulo entre março e outubro de 1956, a exposição fez um passeio pela moda brasileira dos últimos 30 anos, com fotos de nomes como Jacques Dequeker, Bob Wolfenson, Thelma Vilas Boas, entre muitos outros.

Fávio de Carvalho (1899-1973), um dos maiores (e mais incompreendidos) artistas do Brasil, ficou conhecido por seus projetos experimentais e por sua arte irreverente, em uma época de muito conservadorismo. Em uma de suas performances mais conhecidas, saiu pelas ruas de São Paulo trajando saiotes idealizados como roupas masculinas.

A Experiência nº 3 de Fávio de Carvalho

Como poucos, dedicou-se às artes plásticas, arquitetura, cenografia, literatura, performance, música e tudo o que estivesse ao seu alcance. Na exposição, conhecemos alguns de seus textos que dizem respeito à moda, mais precisamente à história do vestuário e a sua relação com a evolução humana. Despreocupado com qualquer embasamento teórico (pelo menos na exposição não aparece  nenhuma referência de outros autores), ele tece suas ideias a respeito do significado do uso do chapéu, das joias, da cauda dos vestidos femininos, das calças compridas e outros elementos.  Em uma das passagens mais interessantes, fala do chapéu como “ladrão de almas” e da cauda do vestido como símbolo de pudor ou medo de um atentado ao pudor. Fala também sobre moda e liberdade e como as classes superiores sempre se inspiraram e se apropriaram de peças e elementos de classes e seres inferiores, como forma de demonstrar o seu poder e também para alcançar a liberdade. Seus escritos foram alguns dos primeiros estudos de moda produzidos no Brasil.

Segundo J. Toledo (retirado do texto de apresentação da mostra), o conjunto de artigos do qual parte a exposição já é, ele próprio, uma redução de um tratado de mais de 1000 páginas que Flávio de Carvalho pretendia publicar sob o título “Dialética da Moda”, assunto da mais alta relevância para o artista. Tenho pra mim que este livro, se fosse publicado, seria uma das maiores referências de estudo sobre história do vestuário até hoje.

Ensaio de Fábio Bartelt para a revista Elle

 

Pra quem não conseguiu ver, deixo aqui um trecho da apresentação da exposição e alguns trechos dos textos do artista.

Vestimo-nos para melhor nos mostrar. Ocultamos mais ou menos nossos corpos para comunicar quem somos, como gostamos de estar no mundo. Revestimos, embalamos, envelopamos nossos corpos para deixar claro que somos agressivos ou delicados, enigmáticos ou diretos, complexos ou simples, diferentes ou padronizados. Valemo-nos de roupas porque queremos chamar a atenção, passar despercebido ou alguma coisa no meio do caminho. Em qualquer caso, seja qual for o nosso desejo, está claro que não vestimos apenas roupas: vestimos ideias. Dito de outro modo: roupas são ideias materializadas. Calças, saias, vestidos, chapéus, sapatos, cintos, brincos, luvas, braceletes, suspensórios, calcinhas, meias e paletós, entre tantas peças com as quais ornamentamos nossas peles, têm uma história que se perde no tempo. Cada um desses objetos foi inventado por algum motivo; traz consigo, ainda que adormecido, o desejo que o levou a existir. Às vezes os objetivos são óbvios: roupas em geral servem para abrigar o corpo. Mas o mundo, ou melhor, o homem, não tem nada de simples. Ou será que você nunca se perguntou quem, e com que finalidade, criou  a gravata?

Esta não é uma simples exposição de moda. Para começar porque a moda não é uma coisa simples (…)

Agnaldo Farias – Curador

 

Luana Teifke por Jacques Dequeker

 

O homem necessita da moda para a sua estabilidade mental. O equilíbrio do curso da etapa histórica também necessita da moda. A moda funciona como reguladora mental dos povos.

O traje eleva o homem para as alturas da consciência e da liberdade. A liberdade é uma manifestação da alegria e de superioridade indivudual e provém da compreensão minuciosa que o indivíduo tem de si mesmo e das relações detalhadas com o seu semelhante. O traje e a moda devem ser considerados como uma libertação das inferioridades do homem. É pelo traje e pelos costumes que ele consegue se livrar das inferioridades, compensando-as. O traje é, pois, uma manifestação de liberdade.

Os costumes de cerimoniais patrióticos são maneiras de compensar inferioridades.

No início, pelo uso da pele da fera, isto é, imitando um ser inferior, o homem consegue garantir para si não só a sua liberdade, mas a própria vida.

Flávio de Carvalho

 

Para quem quiser conhecer mais sobre a obra desse controverso artista, tem alguns artigos dele aqui.