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Jeans fetiche

outubro 30, 2010

É interessante como a história do jeans reflete tão bem as mudanças sociais ocorridas no último século. Segundo o livro Dicionário da Moda, de Marco Sabino, a peça surgiu em meados do século XIX, nos Estados Unidos, quando Levi Strauss e Jacob Davis resolveram transformar em roupa a lona que era usada na cobertura das barracas. No início, era usado pelos mineradores e eram de cor marrom. Strauss registrou a invenção, que logo começou a ser fabricada com brim azul pela Levi’s. Ainda no final do século XVIII, conta-se que o brim pesado já era usado pelos marinheiros da cidade de Gênova na Itália.

Em 1920, o jeans começa a se popularizar, quando pessoas mais ricas começaram a imitar o look dos cowboys e trabalhadores do campo, que usavam calça jeans e blusa de flanela (sim, muito antes dos anos 90). Já em 1950, começa a massificação da moda jeans, que virou símbolo jovem de estilo e atitude, com a forte ajuda do cinema e seus dois rebeldes sem causa: Marlon Brando e James Dean (quase jean!). Existe algo mais legal que isso?

Daí pra frente, todo mundo já sabe: o jeans virou uma febre mundial, ganhou diversas lavagens, modelagens, começou a se mesclar com outros materiais e ser usado por pessoas de todas as camadas sociais.

Já na década de 80, estilistas famosos, como Elio Fiorucci, descobriram o mapa da mina que era a criação de uma linha de jeans e, de peça básica, o item passou a ser artigo de luxo, ganhando novas cores e detalhes. O jeans, mais do que nunca, virou um fetiche.  Nessa época, Calvin Klein levou esse conceito ao extremo, lançando uma das campanhas mais marcantes da história da moda. O que existe em Brooke Shields e a sua Calvin Klein? Nada.

Em 1990, algumas campanhas da CK chegaram a ser banidas da TV, por serem consideradas “ofensivas”.

Eu sempre tive uma obsessão pelo “jeans perfeito”, aquele que parece que foi feito pra você, sabe? Porque nenhuma outra peça de roupa consegue ser tão flexível e praticamente se “transformar em outra” em diferentes corpos. Mas acho que, à medida em que os jeans foram se sofisticando, foi ficando mais difícil combiná-los com outras peças de roupa. Não é a toa que as propagandas exploram a imagem do jeans em corpos nus ou, no máximo, usando uma t-shirt branca ou outra peça em jeans. Sim, eu acho que essa história de que jeans combina com tudo uma balela! Principalmente com a grande diversidade de modelagens e lavagens que existe no mercado. Acho que quando se coloca uma camisa qualquer sobre um “jeans fetiche” ele meio que perde a força, não fica tão especial como quando usado sem nada (o que não é muito viável na prática). E como é difícil encontrar um bom e velho blue jeans sem detalhes e lavagens hoje em dia, não? Acho que esse é um dos motivos que tornaram o jeans da Amapô um hit, ele é simples e bonito, com uma modelagem incrível. Segundo Claudine Eisykman, curadora de uma antiga exposição com o tema “Metamorfoses no jeans”, os novos jeans transmitem informação em excesso:

“O jeans enfeitado deixou de ter relação com a lei do mostruário, pois já não manifesta a especificidade e os desvios que transmitem informações a serem decodificadas; ele inverte a circulação do vestuário. Em vez de conduzir ao código do vestuário, fixa em si mesmo as excitações do social; portanto, não há perda, como na relação tradicional da roupa com esse código. Há pelo contrário, um acréscimo, um excesso”.

Daí que agora eu quero apenas um belo jeans tradicional e funcional, back to basics. Onde é a Levi’s mais próxima?

 

*Boa parte da história do jeans contida nesse texto foi tirada desse artigo aqui. Tem também uma MAG! especial jeans que é ótima e uma seleção de fotos de jeans nesse post aqui.

 

5 Comentários leave one →
  1. novembro 1, 2010 3:41 pm

    Eu também sou a favor do jeans clássico, sem todas essas essas ‘firulas’, mas realmente tá difícil de encontrar.
    Quando você pede um ‘jeans básico’ pra uma vendedora ela vem com o ‘bordadinho nos bolsos’ ou com a ‘lavagem do momento’, tenso. hahaha Mas não vamos desistir!

    Beijo!

  2. Aline Bessa permalink
    novembro 2, 2010 7:57 am

    Cacete, que campanha gênia essa da Calvin Klein com um monte de gente…

  3. Raphaella Vieira permalink
    novembro 4, 2010 8:43 am

    Acho incrível a quantidade de lavagens, modelagens, beneficiamentos e diferentes onças que os jeans alcançaram nesses anos. Acho, também, que tornou-se dificílimo encontrar o jeans mais básico assim como qualquer outra peça básica, além das marcas especificadas em as fabricar, parece que o básico, para os fabricantes, se tornou bobo e obsoleto. E a velha mania de se enquadrar no hoje traz essa massificação e quase homogenidade de “criações”.
    Acredito no jeans como uma base de vestuário que permite quase todas as combinações possíveis, mas como você mesmo especificou não é o protagonista mas a base para um bom look que não seja previsível, sem grandes sacadas. O que o torna especial é justamente a combinação das peças e os acessórios.

    Parabéns pelo post!

    Beijos.

    Rapha.

  4. alinebotelho permalink*
    novembro 5, 2010 11:37 am

    Obrigada, Raphaela. Acho que a graça do jeans é justamente ser uma peça básica, versátil, que combina com tudo e se molda de forma diferente em cada corpo. Acho que os detalhes em exagero “enfeiam” a peça. Beijos!

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