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NY Fall 2010 e as tendências

fevereiro 19, 2010

Calvin Klein / Ralph Lauren / Donna Karan

Foi já na década de 90 que a moda norte-americana passou de um fenômeno restrito para um fenômeno global. Com a globalização e a visão americana de liberdade, os Estados Unidos passaram a influenciar a cultura a nível mundial. Foi a década da ascensão do minimalismo na moda,  da busca pelo básico e pela praticidade. Em contraponto à ostentação dos anos 80, as pessoas passaram a procurar um estilo mais comedido e utilitário, os chamados basics. Assim, marcas americanas como Ralph Lauren, Calvin Klein e Donna Karan se transformaram em alguns dos grandes nomes da moda mundial.

Ainda hoje é possível perceber como essa visão de moda americana de praticidade, da preocupação com o mercado interno de consumo e do utilitarismo ainda rege os princípios da semana de moda de NY. Os estilistas que desfilam suas coleções em NY sabem como ninguém traduzir as tendências que estão no ar em desejos de consumo. É a semana de moda mais pé no chão, uma verdadeira celebração do ready-to-wear, do american way of life.

Jill Stuart / Erin Wasson / Alexander Wang

Não que não haja espaço para a inovação, mas ela acontece de forma mais gradual, dentro dos limites da realidade. NY fala direto com o consumidor. Se por um lado isso parece um entrave à evolução da moda, por outro essa semana se revela bastante democrática, com um leque de opções que não se limitam a pequenas tendências. No caso dessa temporada outono 2010, que acabou ontem, podemos até forçar a barra e tentar tirar algumas tendências chave, como anos 70 e 90, grunge (com uma leitura meio empobrecida, diga-se, pensada através de várias sobreposições de roupas), look total black ou total white, veludo, meias 3/4, botas bem compridas, formas mais amplas que prezam pelo conforto…mas o que fica mesmo é a sensação de que não se trata de tendências fixas, mas de um quadro de referências para que o consumidor as utilize da maneira que melhor o satisfaça.

Marc Jacobs / Rodarte / Helmut Lang

Na temporada passada, eu escrevi um texto sobre a semana de NY que ainda diz muito sobre as características dessa temporada, então vou aqui reproduzi-lo com algumas modificações:

Se fossemos caracterizar algumas semanas de moda através de uma única idéia, eu diria que a semana de moda de Paris é a antecipadora de tendências por excelência, a de Londres é a mais avant-garde e a de NY é a semana da moda consumada.

Para Lipovetsky, a moda consumada representa o último estágio de evolução da moda e, consequentemente, da democracia. Após a moda de cem anos, que é como é chamado o período da criação da figura do estilista e da alta costura até a consolidação do pret-a-porter, nos anos 60, a moda foi criando cada vez mais força e tomando conta dos mais diversos aspectos da sociedade. O império da moda é, então, responsável pelos preceitos que regem o modelo de sociabilidade característico do mundo ocidental. Assim, a busca do novo, a frivolidade, a vontade de se auto diferenciar e o prazer no consumo passaram a ser valores dominantes.

Y-3 / Lacoste / Rad Hourani

Das qualidades principais da moda consumada, a semana de NY pega um item essencial: a do faça você mesmo. Nessa edição em especial, dá para observar como há uma grande variedade de estilos, mesmo que nenhum deles seja realmente novo. A moda de NY não está muito preocupada em lançar tendências, mas ao mesmo tempo oferece um leque de escolhas bastante grande para o consumidor. Ela é uma boa representante do momento em que vivemos, quando as semanas de moda não ditam mais de forma dura e vertical o que as pessoas devem vestir. Pode-se observar como as coleções induzem muito mais as pessoas a se apropriarem apenas de alguns elementos que lhes convêm para a criação de um estilo próprio. O individualismo e as pequenas diferenciações são predominantes. A semana de moda de NY materializa como ninguém o presenteísmo.

Rag & Bone / DKNY / Marc by Marc Jacobs

Nessa semana, chamou-me especial atenção essa utilização de diversas camadas de roupas que já estão chamando por aí de releitura do grunge, como a que apareceu na Rag & Bone, uma espécie de mendiguismo chic (Marc Jacobs fazendo escola). Também achei muito interessante e divertida a coleção do Jeremy Scott e a mensagem deixada: it’s all about style. Como já disse Gloria Kalil: “Nós estamos numa fase onde a palavra chave não é mais moda, e sim estilo”.

Jeremy Scott Fall 2010

É meio tédio ver tanta coisa e tão pouca novidade, mas pensando do ponto de vista da autonomia individual talvez este seja um ponto positivo. Há possibilidades e bons meios de transitar entre os mais diversos estilos. Agora o trabalho criativo, mais do que nunca, está muito mais por conta do consumidor do que do criador. Este é o momento do it yourself da moda.

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